segunda-feira, agosto 23, 2004

Línguas ameaçadas

Falamos muito de animais ou plantas ameaçados de extinção, muitos de nós estão até sensibilizados para este problema e temos consciência da perda inestimável que constitui o desaparecimento de uma espécie.
Mas será que reconhecemos a importância da diversidade cultural humana? E dentro desta diversidade, será que reconhecemos o papel da língua como repositório cultural e ambiental de um povo?
O português é a sexta língua materna mais falada no mundo, conforme estatísticas da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), que revela a existência de 6,7 mil línguas vivas no mundo.
De acordo com o documento "Língua Portuguesa: Perspectivas para o Século XXI", elaborado pelo Instituto Camões (IC), a língua portuguesa tem ganhado falantes de forma contínua, desde o início do século XX. Em 2000, a Unesco estimou em mais de 176 milhões o número de falantes de português no mundo. O que significa que está de boa saúde!
E as outras seis mil e tal?
Bem, segundo artigo publicado no nº 137 do jornal A Página da Educação "metade das línguas indígenas do mundo está a desaparecer, facto que ameaça não só a cultura, mas também o meio ambiente".
234 línguas indígenas contemporâneas já desapareceram completamente. E prevê-se que durante o século XXI 90% das línguas faladas no mundo desaparecerão.
Segundo o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), 32% das línguas faladas no mundo encontram-se na Ásia, 30 % em África, 19 % na Oceania, 15% nas Américas e 3% na Europa e são diariamente ameaçadas pela crescente globalização em todos os domínios. Os segredos da natureza contidos nas canções, nos contos, na arte e no artesanato dos povos indígenas e o saber milenar acumulado pelas práticas quotidianas podem perder-se para sempre. Os estudos estimam que, das línguas faladas no mundo entre, 4.000 e 5.000 são indígenas. E mais de 2.500 estão ameaçadas de desaparecimento imediato, enquanto muitas outras perdem pouco a pouco a sua ligação com a natureza e sofrem os efeitos da aculturação.
Assim, no recente Fórum de Ministros dos cinco continentes, realizado em Nairobi, o PNUMA declarou-se favorável à defesa das culturas e línguas indígenas como prioridade para a proteção do meio ambiente.
Para Klaus Toepfer, Director Executivo do PNUMA, "a liberalização dos mercados do mundo é talvez a chave do crescimento económico nos países ricos e pobres, mas isto não deve ser feito em detrimento dos milhares de culturas indígenas e das suas tradições. O desaparecimento de uma língua e do seu contexto cultural equivale a queimar um livro único sobre a natureza".

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