quarta-feira, março 30, 2005

O Tabagismo

Nos Estados Unidos, fuma-se mais de um bilião de cigarros por dia. Para lhe dar uma ideia, se pegassemos nesses cigarros e os alinhássemos ponta a ponta, daríamos quase duas vezes a volta ao planeta Terra... E estamos apenas a falar de um dia, unicamente nos Estados Unidos.
Fico sempre espantado ao saber que existem ainda especialistas do foro clínico que põem em dúvida os riscos do tabagismo para a saúde. Os números mostram que uma pessoa que fuma mais de um maço de cigarros por dia tem 500% mais de probabilidade de sofrer de uma crise cardíaca do que aquela que não fuma. Mesmo as pessoas que apenas fumam entre um e quatro cigarros por dia, correm duas vezes mais riscos de estarem sujeitas a uma crise cardíaca ( Segundo Julien, R. M. (1992). A primer of drug action, 6ª edição, Nova Iorque, Freeman ).

Todos os dias, nos Estados Unidos, morrem em média 1232 pessoas por causa do cigarro. Assim, 450 000 mortes por ano são atribuíveis ao tabagismo, das quais 110 000 são causadas por cancro dos pulmões e 200 000 por perturbações cardiovasculares. Os 56 milhões de fumadores americanos são responsáveis por 60 biliões de dólares por ano em custos com a saúde e em perdas sociais.
Calcula-se que cada cigarro fumado diminua a esperança de vida em 14 minutos. Por outras palavras, um homem de 40 anos que fuma dois maços de cigarros por dia terá encurtado a sua esperança de vida em cerca de oito anos..

Mas o fumo do cigarro não afecta, infelizmente, apenas os fumadores. Em 1988, mais de 3825 americanos morreram com um cancro do pulmão causado pelo fumo dos outros. Aliás, o pior efeito do cigarro relaciona-se sem dúvida com os fetos. Em 1988, 2552 mortes de crianças são atribuíveis ao facto de que as respectivas mães fumavam. Sabemos que o cigarro aumenta a taxa de abortos espontâneos, de nascimentos prematuros e de mortes pós natais.
Hoje não resta dúvida de que o fumo do cigarro atravessa a placenta. Pelo facto de o monóxido de carbono contido no fumo reduzir o oxigénio, os fetos têm um fornecimento reduzido de oxigénio, o que a longo prazo pode levar a problemas físicos e intelectuais irreversíveis.

Chabot, Daniel (2001). A Magia do Prazer, 1ª Edição, Editora Pergaminho, 2001, Lisboa, Portugal

terça-feira, março 15, 2005

A vida em cena

A arte de bem viver está na proporção direta da capacidade de desempenharmos bem os diversos papéis que a vida nos exige.
Que é isso, representar papéis?
A palavra “papel” tem sua origem no antigo teatro, quando os atores decoravam o texto que vinha escrito em pergaminhos, enrolados em bastões. Enquanto atuavam no palco, um leitor ia desenrolando o rolo do texto e “assoprava” as falas aos atores, como hoje se faz com o que se chama “ponto”. Este “rolo”, em francês, se diz “rôle”; em inglês, “role”, donde a expressão: to play a role = desempenhar um papel, atuar.
Tanto no palco quanto na vida real, a qualidade está na espontaneidade. Acontece que, ao longo da vida, seja pelo processo educacional seja pela repressão social a que somos submetidos, seja pelas neuroses pessoais, vamos reduzindo a nossa capacidade de ser espontâneos. Incorporamos certos padrões de comportamento, cristalizando reações e modelos de funcionamento que acabam não sendo adequadas para as complexas exigências da vida. A rigidez de posições – o inverso da espontaneidade – dificulta ou impede o bom relacionamento interpessoal e nos faz sofrer. A nós e a quem nos cerca.
Para lidar com este tão funesto destino, uma das técnicas que utilizo, em meu trabalho como psicoterapeuta é o Psicodrama.
Psicodrama é uma técnica psicoterápica que tem raízes no teatro, na psicologia e na sociologia. Em termos teóricos, sua constituição se deu a partir da prática, na medida em que JACÓ LEVY MORENO (1892-1974) e seus seguidores intentaram formalizar.

O ponto básico do Psicodrama é a "dramatização" ou "representação":
A representação se faz com vários atores, daí o Psicodrama se caracterizar como uma técnica grupal, onde não mais é o indivíduo isolado que dramatiza, mas um grupo que expressa suas inter-relações.
Uma sessão de Psicodrama obedece, basicamente, ao seguinte plano:


  • aquecimento: momento de fusão grupal, o warming up se constitui como a situação propiciadora para surgimento de um tema e da construção de um enredo sobre o qual se improvisará a representação;
  • representação: é o momento mais importante da sessão, uma vez que a improvisação colocará o "ator" diante de sua própria "produção": falas, gestos, atitudes, indecisões, atos falhos (que, sob o enfoque psicanalítico, são manifestações do inconsciente), etc;
  • comentários: na "volta-ao-grupo", os participantes e o terapeuta tecem considerações sobre o vivido. Cada participante tem a oportunidade de se expressar como se sentiu, como percebeu os colegas, que tipo de percepção nova obteve. Eventualmente, o terapeuta agrega algum comentário sobre o acontecido.


Há variedade quanto às formas de se desenrolar cada uma destas etapas. O importante é permitir o afloramento do Inconsciente e que os atores (protagonistas e antagonistas) se deixem levar pela espontaneidade e possam se deparar com a reconstrução simbólica possível (re-significação): o sujeito, ao nos propor um tema, nos propõe uma metáfora e uma pergunta "- Quem sou eu, sob a pele deste personagem? Quem emerge? Que quero eu?".

Na sua relação com o outro, o ator se depara com a farsa e o disfarce proporcionados pela rigidez de posturas, pelas condutas habituais na vida pessoal, familiar e profissional.
Em Belo Horizonte, há um grupo que trabalha com uma modalidade interessante de Psicodrama. Chama-se VIDA EM CENA. Utilizam o playback theatre, que é uma técnica especial: consiste em solicitar aos participantes de uma platéia que narrem histórias pessoais vividas. A seguir, o próprio grupo de atores improvisa um pequeno sketch, uma pequena dramatização, na qual realçam certos temas e sentimentos percebidos na narrativa.
É uma prática lúdica, interativa, desencadeia emoções e proporciona insights interessantes tanto ao protagonista – criador da história – quanto à platéia. Aplica-se como técnica de dinâmica de grupos em empresas, universidades, equipes de trabalho, etc.


Enviado por Cláudio Costa (http://prascabecas.blogspot.com) - Psiquiatra, Psicanalista e blogueiro

sexta-feira, março 04, 2005

Ritmo Circadiano

Com base numa dúvida surgida num comentário a um post anterior é importante definir aquilo que se trata quando se refere o termo ritmo circadiano, já que este é um termo muito comum quando se fala de homeostasia e auto- regulação corporal.
O termo “ritmo circadiano” provém do Latim circa diem, que significa “por volta de um dia”. Como o próprio nome sugere este ritmo desempenha as suas funções em ciclos de 24 horas. O ritmo circadiano regula todos os ritmos do corpo desde a digestão até ao processo de eliminação, desde o crescimento ao renovar das células, assim como a subida ou descida da temperatura.
O “relógio” que processa e monitoriza todos estes processos encontra-se localizado numa área cerebral denominada núcleo supraquiasmático, localizado dentro do hipotálamo na base do cérebro e acima das glândulas pituitárias. A glândula pituitária é conhecida como a glândula “mestre” já que é esta que controla a sintetização hormonal.

Reflexos?? Porquê? Como?

Reflexos miotáticos

É de todos conhecido o martelo de reflexos, espécie de ex-libris do neurologista. Os melhores são compridos, flexíveis e com a superfície de percussão elástica – os martelos – sem outra utilidade que não seja a pesquisa dos reflexos miotáticos. Os reflexos miotáticos prolongam o exame motor, contribuem para esclarecer os achados do exame da força muscular. Tal como em relação à força muscular a sua avaliação serve o objectivo de localização, mas com menos importância nesse aspecto: os reflexos miotáticos são poucos, uma dúzia, sujeitos a influências fortuitas e com grandes variações dentro da normalidade. Os reflexos miotáticos são sobretudo úteis na delimitação temporal dos defeitos motores, porque têm padrões de modificação ao longo do tempo que são diferentes para lesões TL e TS (ad contrario, e se fôr conhecido o perfil temporal de um deficite, podem ser úteis para afirmar a sua natureza TL ou TS).
Os reflexos miotáticos resultam do mais simples dos fenómenos neurológicos: o arco reflexo. Como todos os reflexos é uma resposta simples e unívoca a um determinado estímulo, é constante e reprodutível, e é independente do controle voluntário. A sua característica mais destacada é a repetição: cada estímulo de igual intensidade leva o sistema nervoso a responder monotonamente da mesma maneira. A actividade reflexa de que resulta um reflexo miotático passa-se exclusivamente a nível segmentar: um estímulo entra para a medula pela raiz posterior e origina uma resposta que sai da medula pela raiz anterior, sem abandonar o mesmo segmento. Estímulo e resposta estão conectadas por uma única sinapse e por isso se pode acrescentar o nome do fenómeno com mais um apelido: arco reflexo monossináptico, monossináptico por parte da sinapse.
A percussão com um martelo de reflexos de um músculo ou do seu tendão dá origem a uma distensão rápida desse músculo – o mesmo que aconteceria se percutissemos sobre um elástico esticado. No interior do músculo existem receptores – terminações nervosas – com uma configuração especial capaz de reagir a essa distensão. A especulação sobre qual deveria ser a forma ideal de um receptor capaz de reagir à distensão, levaria decerto a uma maioria de respostas: uma mola. Foi exactamente isso, um receptor com uma configuração espacial que o assemelha a uma mola, que a natureza providenciou. Encontram-se semeados entre as fibras musculares, têm como função detectar o estiramento súbito do músculo e foi convencionado dar-lhes o nome de receptor ânulo-espiral.
O estiramento destes receptores vai gerar um estímulo que viajará rapidamente, saltando de nódulo de Ranvier em nódulo de Ranvier, através de fibras sensitivas – fibras que são parte integrante de um nervo misto periférico, que engloba fibras sensitivas e motoras.