O termo distúrbios alimentares refere-se a distúrbios psicológicos caracterizados por graves anomalias no comportamento de ingestão. Os mais conhecidos são a anorexia e a bulimia nervosas (Raich, 2001). De acordo com Department of Health and Human Services, estes distúrbios envolvem sérias perturbações no comportamento de ingestão tais como extrema redução de ingestão ou sobre ingestão severa associadas a sentimentos de stress e preocupação excessiva sobre forma corporal e peso.
Muitas pessoas preocupam-se acerca de quanto e o que comem de tal forma que certos indivíduos têm uma preocupação mórbida acerca da sua imagem corporal e avaliam-se de acordo com a sua magreza (Bouça, Sampaio, 2002). Esta forma de ameaça de morte psicopatológica deve ser distinguida de outras causas de perda de apetite e de peso (Cameron, Bloyde e Davis, 2004).
Este tipo de distúrbios afecta muito mais as mulheres (especialmente jovens) de que os homens; são mais frequentes em sociedades onde há abundância de comida e cuja cultura enfatiza a magreza (Raich, 2001; Department of Health and Human Services) e cujo estilo de vida enfatiza o sedentarismo (Wilhelm e Clarke, data).
Estes distúrbios podem associar-se com psicopatologias graves (tais como depressão, abuso de substâncias e perturbações de ansiedade) e interferir no funcionamento normal da vida a nível laborar, social e de estudo (Raich, 2001; Department of Health and Human Services).
Estes problemas geralmente apresentam as suas primeiras manifestações na infância e na adolescência e podem ser divididos, de acordo com Appolinário e Claudino (2000), em dois grupos: os que ocorrem precocemente na infância e que representam alterações da relação da criança com a alimentação e os que aparecm mais tardiamente onde se enquadram os transtornos propriamente ditos, mormente a anorexia e a bulimia nervosas.
As pessoas que padecem deste tipo de desordem geralmente experimentam um vasto leque de complicações físicas das quais são exemplo problemas cardíacos, lanugo e osteoporose. As complicações físicas inerentes a estas doenças podem levar à morte (Bouça e Sampaio, 2002).
As doenças do comportamento alimentar são as terceiras mais comuns entre as raparigas adolescentes, a seguir à asma e obesidade, segundo Wilhelm e Clarke (data) e, muito frequentemente, não são consideradas como um problema pelo paciente. Estes mesmos autores referem que os distúrbios do comportamento alimentar englobam os que fazem dieta, que recusam comer mesmo quando têm fome, e aquelas que comem mesmo quando não têm fome.
A adolescência envolve um leque de desenvolvimentos que têm um impacto no comportamento alimentar, como sejam a puberdade, a mudança da forma corporale novos sentimentos sexuais (Wilhelm e Clarke, data). A puberdade está associada com um ganho de peso considerável e esta alteração ocorre num contexto cultural que exalta um ideal de beleza feminino de magreza extrema (Johnson, Roberts e Worell, 1999).
Os ideais de magreza aceites socialmente e perpetuados pelos media fornecem uma representação distorcida do auto-controlo, magreza e da atractividade física. As jovens experienciam, desta forma, stress relacionado com as expectativas sociais, a que também os rapazes não são alheios (Wilhelm e Clarke, data; Saikali, Soubhia, Scalfaro e Cordas, 2004; Levine, Smolak Hayden, 1994).
Wilhelm e Clarke (data) referem como factores de risco para desenvolver uma perturbação alimentar: ser do sexo feminino, ter vulnerabilidade genética, história familiar de perturbação psiquiátrica, obesidade pré-mórbida, estilo perfeccionista e um pouco obsessivo, família e sistemas sociais disfuncionais, perturbação obsessivo-compulsivo, personalidade borderline e história prévia de abuso sexual. Os precipitantes poderão ser comentários sobre a forma corporal ou diminuição da auto-estima. Hewitt, Flett e Ediger (1995) referem que o perfeccionismo pode contribuir para a emergência de uma perturbação da alimentação uma vez que transformando uma imperfeição normal em algo mais traumático ou fazendo com que se avalie um corpo normal como um sinal de imperfeição.
As mulheres podem encarar o comer como uma estratégia de coping para com sentimentos desconfortáveis e Hooker e Convisser (1983) referem algumas das razões explicativas: evitar assuntos difíceis escapando da realidade, para se acalmarem e relaxarem ou se sentirem confortadas, para alívio do sentimento de vazio, para proscrastinar evitar outras responsabilidades, para preecher um vazio, para se sentirem enérgicas, punidas ou recompensadas.
De acordo com Bouça e Sampaio (2002), as doenças do comportamento alimentar devem ser entendidas como doenças que reflectem a confluência entre psicológico individual, determinantes biológicos e factores sócio-culturais devendo, para tal, ser abordadas numa perspectiva multidimensional.
Segundo Cameron, Bloyde e Davis (2004), várias são as complicações médicas causadas pelas perturbações alimentares nomeadamente pelo vómito e pela sub ingestão alimentar.
O vómito pode provocar erosão permanente do esmalte dos dentes e cáries dentárias, alargamento das glândulas salivares, especialmente das parótidas, calos nas costas das mãos devido a trauma repetido causado pelos dentes na indução do vómito (sinal de Russell), roturas esofágicas e gástricas, sérios problemas cardíacos e esqueléticos e cardiopatias provocadas pelo uso regular de xarope de ipecacuanha. Testes laboratoriais demonstram, nestes pacientes, a presença de hipocalemia, alcalose hipoclorémica, hiponatremia, hipomagnesamia e de elevados níveis de serum amilase (Cameron, Bloyde e Davis, 2004). É ainda referido a presença de anemia, , hipoglicémia,
A sub ingestão alimentar provoca: emagrecimento, amenorreia, infertilidade, atrofia do sistema reprodutivo, obstipação, dor abdominal, intolerância ao frio, letargia, bradicardia, hipotensão, arritmias cardíacas, falhas cardíacas, lanugo, edema periférico, miopatia proximal, perda de tecido muscular, osteoporose, fracturas ósseas, crises, enfraquecimento cognitivo e depressão. Testes laboratoriais demonstram funções vitais anormais, desidratação, diminuição de cortisol e da hormona de crescimento, T3, FSH e LH reduzidos, hipercolesterolemia, hipoglicémia, hipercarotemia, anemia normocitica e leucopenia (Cameron, Bloyde e Davis, 2004).
Bibliografia
Appolinário, J.C. & Claudino, A.M. (2000). Transtornos Alimentares. Revista Brasileira Psiquiátrica, 22: 28-31.
Bouça, D. & Sampaio, D. (2002). Avaliação Clínica nas Doenças do Comportamento Alimentar. Revista Portuguesa de Psicossomática, 4: 121-133.
Cameron, A., Bloyde, D. e Davis, S. (2004). Psychiatry. 2ª edição. Espanha: Elsevier Science Limited.
Hewitt, P. L., Flett, G. L. & Ediger, E. (1995). Perfectionism traits and perfectionistic self-presentation in eating disorder attitudes, characteristics, and symptoms. International Journal of Eating Disorders, 18: 317-326.
Hooker, D. & Convisser, E. (1983). Women's eating problems: An analysis of a coping mechanism. Personnel and Guidance Journal, 236-239.
Johnson, N., Roberts, M. e Worell, J. (1999). Body image concerns and disordered eating in adolescencent girls: risk and protective factores. In Striegel-Moore, R.H. & Cachelin, F.M. Beyond Apperance. A New Look at Adolescence Girls. USA: APA.
Levine, M. P., Smolak, L. & Hayden, J. (1994). The relation of sociocultural factors to eating attitudes and behaviours among middle school girls. Journal of Early Adolescence, 14: 471-490
Raich, R.M. (2001). Anorexia e Bulimia. Amadora: McGraw Hill.
Saikali, C.J., Soubhia, C.S., Scalfaro, B.M. e Cordas, T.A. (2004). Imagem Corporal nos Transtornos Alimentares. Revista de Psiquiatria Clínica. 31 (4); 164-166.
Wilhelm, K.A. & Clarke, S.D. (data). Eating Disorders from a primary Care Perspective. MJA Practice Essencials, Mental Health.
terça-feira, outubro 23, 2007
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