sexta-feira, abril 22, 2005

CIÚME: O INFERNO É AQUI

Procura-me um rapaz (N.) de 20 anos, universitário.Acaba de perder a namorada (T.):


- “Ela é linda, doutor, uma modelo. A gente namora desde o segundo ano do colegial, eu com 15 ano e meio, ela com 14. Fazíamos tudo junto: fins-de-semana, festas, passeios, almoços, cinema, até a própria faculdade: ela quis entrar pra mesma faculdade que eu, um ano depois de mim. A gente só não se via quando estava dormindo! Agora, ela não quer saber mais de mim, brigou comigo. Chegou pra mim, de repente, na quarta-feira passada e, sem mais nem menos, falou:
- Olha, N., há dois meses estou pensando nossa relação. Resolvi dar um tempo!
Essas palavras me detonaram, Doutor. Desmontei. Chorei, implorei, falei que ela estava errada, que ela era a mulher de minha vida. Mas ela foi irredutível, saiu do carro, lá no estacionamento da faculdade e me deixou ali, feito criança, chorando. Na hora do almoço não fui pra minha casa, mas pra casa dela. Cheguei lá e falei com a mãe dela que T. estava ficando louca! A T. chegou e nem queria olhar pra mim. Mas insisti que deveríamos conversar mais. Aceitou. Fomos pro quarto dela e, aí, ela falou que não suportava mais meus ciúmes, que queria viver a vida, que queria sair com os colegas – coisa que eu não deixava. Se eu nem mesmo tenho amigos, como é que vou ficar sem ela? Mas ela não cedeu. Então lhe prometi que iria mudar, seria outro homem, que ela poderia sair, sim, mesmo que me machucasse. Jurei, da boca pra fora, claro, que a deixaria ir às festas da turma dela sem mim, que fosse ao shopping com as colegas, até mesmo que viajasse prum sítio, no final de semana. Mas ela tinha de me prometer que não ficaria com ninguém, que não beijaria ninguém, pois eu não suportaria. Eu me mataria se soubesse disso. Ela concordou e só então fui pra casa. À noite, liguei pra ela, só pra conversar como amigos e não a encontrei. Ela tinha ido pro barzinho com a turma dela. Não agüentei: desci a Avenida Afonso Pena a 140km, cortando pela direita e pela esquerda, devo ter sido multado naquele radar da Contorno, ali do Tobogã, o senhor sabe? Cheguei na Prudente de Morais. Ela bem ali, alegre, rindo, cheio de gente, uns caras que eu nunca vi. Avancei pra cima dela. Só não bati, mas xinguei de tudo: irresponsável, insensível, traidora, burra! Burra, sim, porque me tinha largado pra ficar com gente que só quer saber de sarrar ela. Burra porque não enxerga meu amor por ela, que ela é a mulher de minha vida. Tenho certeza disso, ela é a mulher de minha vida. O pessoal até me segurou, senão teria batido nela. Acabei indo pra casa, arrependido, com medo de ter colocado tudo a perder, pois eu a agredi feio. Não durmo desde então. Hoje é segunda e não consigo comer desde quarta-feira. Emagreci já 6kg por causa dela. A vida perdeu o sentido, doutor. Quero morrer. Mas não tenho coragem de me matar, não vou deixá-la por aí. Ainda mais porque acredito que ainda vou reconquistá-la. Posso falar com ela pra vir aqui? Pra ela fazer uma terapia com o senhor e voltar atrás? O senhor me ajuda?”



Ao nascer, perdemos o aconchego e a segurança do útero e adquirimos duas ansiedades básicas que nos acompanharão pelo resto da vida: o medo do ataque e o medo da perda. Logo, estabelecemos uma relação idílica com a mãe, na ilusão de que formamos um par perfeito, até que descobrimos uma terceira figura, um gigante, o pai – o marido dela, o Outro. Na grande maioria dos casos, mais um intruso se interpõe: um irmão a se aninhar nos braços daquela que imaginávamos ser somente nossa.


Essas primeiras experiências “amorosas” e de “frustração” nos deveria ter ensinado que:

  • não existem garantias de exclusividade;
  • não podemos manipular as ações do outro;
  • e mais ainda: não podemos dominar o desejo do outro!



Os ciúmes existem e atormentam os humanos desde Caim e Abel. Shakespeare desenvolveu o tema em Otelo. Os homens já inventaram o cinto de castidade.


Os ciúmes podem ser decompostos em três sentimentos básicos que se manifestam em condutas correspondentes:

  • Insegurança: baixa de auto-estima e conseqüente medo de não ser amado, ansiedade, sentimento de posse e necessidade de controle do outro. O ciumento se torna possessivo e cada vez mais insuportável ao outro. Cava sua própria desgraça!
  • Inveja: quero que o meu amado(a) não dê a outrem o que julgo ser somente meu; não tolero ver outra pessoa receber o carinho, o afeto, o olhar daquele(a) que amo!
  • Raiva: odeio meu amado (minha amada) quando não faz aquilo que eu desejo. Odeio também quem recebe a atenção que deveria ser somente para mim. E meu ódio me leva à agressividade: tenho de destruir ambos: meu objeto de amor – que agora odeio – e o intruso – usurpador do meu bem e causa minha perda!

Muitas vezes, a baixa de auto-estima e a culpa por meus sentimentos e ações agressivas para com o objeto amado são tão insuportáveis, que a agressividade se volta contra mim mesmo: então em me mato. O meu “suicídio por amor” contempla minha dupla necessidade: a autopunição e a punição de quem eu amava e agora odeio.


Se é verdade que um certo grau de ciúmes poderá “esquentar” uma relação e mesmo erotizá-la, é mais comum que ciúmes patológicos tornarão o amante cada vez mais rígido, vigilante, controlador, inseguro, às vezes deprimido e, muitas vezes, agressivo. A pessoa não suporta a idéia de perder o amado pela convicção de que jamais encontrará alguém que o substitua. O pensamento recorrente é:

Tenho de estar absolutamente seguro(a) de que ele/ela me ama, pois sem seu amor não posso viver. Tenho que estar atento(a) porque, a qualquer momento, quando menos espero, posso ser roubado(a).


É o inferno, dentro de nós!(Escrito por Cláudio Costa - PRAS CABEÇAS - Psiquiatra, Psicanalista e Blogueiro)

11 comentários:

augustoM disse...

O ciúme é uma consequência do sentimento de posse, e a posse, por sua vez, é uma manifestação de frustação.
Sendo o homem um ser eminentemente "possessivo" pelo seu egoísmo, o ciúme, em maior ou menor grau, faz parte integrante do seu intelecto.
Um abarço. Augusto

Anónimo disse...

ola....
O k N. deveria sentir n era amor d certeza..pk kem ama respeita e da o espaço necassário ao outro!
jitos*************'s

Anónimo disse...

e como se poderia controlar esses sentimentos exagerados?
kual a solução? se é k existe.
beijos**

Toix disse...

E essa doença terá cura?

Anónimo disse...

Ai é ? Nada de complicado. É só um estado de espírito ! Só falam do ciume os ciumentos.

Anónimo disse...

O CIUMES QUE SINTO CHEGA A DOER EM MIM.JA NAO SEI MAS O QUE FAZER SEI QUE ESTOU DOENTE E PRECISO DE AJUDA E RAPIDO 'MARAISA''

Anónimo disse...

sou alvo de ciúmes é miuto díficil lidar com uma pessoa que me vê como uma propriedade. vou largar!!!!!

Anónimo disse...

quem tiver a cura, ou pelo menos o inicio de um caminho pra ela, pelo o amor de Deus me avisem!!! rs
sou um amaldiçoado tbm! rs

Anónimo disse...

ACREDITO QUE "N" DEVA PENSAR MAIS NELE, PORQUE COM CERTEZA ELE ESTARÁ BEM CONSIGO MESMO E AI SIM ELE ATRAIRÁ COISAS BOAS, TALVEZ ATÉ SUA EX- NAMORADA DE VOLTA.

DOE MUITO, EU SEI, MAS NÃO SE DEIXE AFUNDAR NISSO. O SOL NASCE TODO DIA PRA TODOS, SE VISTA DE ALEGRIA, DESCONTRAÇÃO E PENSE EM SI, NO SEU BEM ESTAR. A ALEGRIA, A POSE, O BRILHO NOS OLHOS, O SONHO, A BELEZA ATRAI AS PESSOAS E AS TRAZ DE VOLTA.
ISSO É UMA LUTA DIARIA, FALO ISSO POR EXPERIÊNCIA PRÓPRIA.

ABRAÇOS

FELIPE

Anónimo disse...

ATÉ PRA SOFRER DE CIUMES TEM QUE TER CLASSE...SENÃO PASSAMOS POR LOUCOS...NUNCA SE REBAIXE.
CONVERSE, EXPONHA SEUS SENTIMENTOS, E SE NÃO DER CERTO TUDO ISSO, USE SEU AMOR PRÓPRIO.

PARA SE TER CONFIANÇA, PRIMEIRO É NECESSÁRIO AMOR PRÓPRIO.

BOA SORTE PESSOAL
quem quiser conversar sobre:

vlwae@hotmail.com

Anónimo disse...

"O psicanalista italiano Aldo Carotenuto, diz que a pessoa ciumenta não consegue manter uma relação de objetividade com os fatos, de maneira que eles são interpretados a partir de uma atitude obsessiva, favorável às suspeitas. Dessa forma, pode-se compreender que uma emoção forte e intensa como o ciúme patológico pode ultrapassar os limites do controle egoico e pode prejudicar a capacidade de raciocínio objetivo e claro, conduzindo o ciumento patológico a praticar atos violentos".

Fonte: www.essencialhumano.blogspot.com

Amei seu blog e te sigo

Bjs