"Mitos nos quais se acredita tendem a se tornar verdade." --- George Orwell (em The Collected Essays, Journalism, and Letters of George Orwell, vol. 3, edited by Sonia Orwell and Ian Angus, New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1968, page 6)
Aquilo que se propaga muito nesta sociedade, mesmo sem base científica alguma, passa a ser uma verdade absoluta. É o denominado senso comum.Um desses exemplos constata-se em várias pessoas ao afirmarem que o ser humano apenas usa 10% do seu poder cortical.Vou tentar escrever este post para elucidar esse equívoco.Primeiro que tudo há que explorar o início do mito. Este mito tem origem, provavelmente, numa interpretação errada de uma citação de Albert Einstein ou ainda de uma interpretação errada do trabalho de William James que escreveu em 1908 : "We are making use of only a small part of our possible mental and physical resources" (from The Energies of Men, p. 12), sabe-se que muitas pessoas desfocam as teorias à sua maneira.Agora vamos às provas fisiológicas da impossibilidade desta percentagem: para qualquer entendido em topografia cerebral é óbvia esta impossibilidade mas vou tentar explicar isto de uma maneira simples. O cérebro humano possui áreas específicas para tarefas específicas como a recepção de estímulos somato sensoriais, outra área para associar esses estímulos a dor,prazer ou seja associar estímulos a mapas sensoriais, e uma terceira área que integra essa informação com informações resultantes de outras áreas cerebrais tais como o córtex visual ou auditivo, permitindo assim integrar toda a informação recorrendo a imagens e sons.Pode-se comprovar que o cortéx auditivo se encontra no lobo temporal, o córtex visual no lobo occipital e o córtex somato sensorial a nivel do lobo parietal. Além destas áreas específicas existe o lobo frontal responsável pelo denominado pensamento e inteligência humana, sendo extremamente importante no pré planeamento e pré execução de tarefas. Existe também um número elevado de núcleos situados numa posição medial e no tronco cerebral que são, entre outras coisas, muito importantes no sono e em despertar desse sono, na coordenação dos movimentos, a denominada motricidade fina entre muitas funções importantes que permitem a homeostasia corporal e biológica de todos os índíviduos.10% de um cérebro significa que apenas 140 gramas do nosso encéfalo seria usado, já que a média do peso de um encéfalo humano é de 1400 gramas. Com essas 140 gramas seria de todo impossível albergar as funções referidas em cima, já para não falar de um sem número de funções e estruturas que o cérebro possui além destas mas não queria que este fosse um post com informação massiva e de algum modo elaborada.Com 140 gramas teriamos um encéfalo igual a de uma ovelha, e sinceramente, não vejo uma ovelha com as capacidades intelectuais caracterizadoras do ser humano. Se lhe disserem que o ser humano usa apenas 10% do cérebro responda-lhe com toda a certeza: Mentira, usamos 100% do cérebro, (muitas vezes das maneiras mais erradas e desperdiçando uma das maiores maravilhas da evolução)
3 comentários:
Caro Navigator depende do peso encefálico tendo em conta a proporção directa com a massa corporal. Daí o elefante pesar várias toneladas e possuir um "grande" cerébro mas se comparar a relação peso encefálico/massa corporal o ser humano é o ser vivo que possui um maior cérebro, daí esta referência ao peso. Obrigado pelo comentário
Caro Navigator temos de ter em conta que as relações massa encefálica/massa corporal são apenas realizadas inter especies. Em relação a essa afirmação relativamente ao taxistas por acaso desconhecia mas posso supor, tendo em conta que está cientificamente comprovado, que o constante exercício da sua actividade deve proporcionar a neuroplasticidade inerente assim como acontece com os músicos ou qualquer indíviduo com uma tarefa que requeira especialização específica e constante, mas sem dúvida que seria um óptimo tópico de pesquisa.
Ainda há muito pouco tempo participei numa discussão sobre evolução humana num forum e esta discussão levou-nos à utilização que o ser humano faz do seu cérebro. Um amigo meu que esteve envolvido num grave acidente de viação há 2 anos, a certa altura diz o seguinte:
"Como consequência do acidente em que estive envolvido, tive entre outros problemas, traumatismo craniano, hemorragia interna com efeito de massa, e derrame de massa encefálica! Os relatórios médicos elaborados pela equipa de neurologia do hospital Pedro Hispano, não indicam nenhuma anomalia resultante da perda de massa cefálica. Assim como eu, muito outros podem provar que não usamos toda a nossa "massa cinzenta"."
Não conheci este meu amigo antes do dito acidente mas, hoje, parece-me uma pessoa sem nenhuma limitação cognitiva (antes pelo contrário). Assim sendo, tenho mesmo que me interrogar sobre "a divisão das funcionalidades pelo nosso cérebro"...
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