quinta-feira, novembro 01, 2007

Alimentação e nutrição na infância

Controlar a alimentação não é educar mal as crianças

Dantes pensava-se que uma criança magra era especialmente vulnerável a doenças e infecções. As vacinas e os antibióticos deitam hoje por terra essa desculpa para criar crianças gordas e, alem disso, está demonstrado que um peso normal na infância favorece um peso saudável no futuro.
E se uma criança tem peso a mais e parece encaminhar-se para a obesidade? As estatísticas são preocupantes: nos Estados Unidos 15% das crianças a partir dos 6 anos tem peso a mais, e outros 15% encaminham-se nessa direcção.
Em Portugal, 31% das crianças entre os 7 e os 9 anos sofre de excesso de peso.
Para obter uma aproximação (nunca exacta) ao peso que deve ter uma criança entre 2 e 5 anos há que multiplicar a idade em anos por dois, mais oito.
As patologias relacionadas com este tipo de problemas atingem 7% das despesas totais de saúde.
Os Centros Educativos são os lugares mais indicados para voltarmos à nossa dieta mediterrânica, fonte de saúde e bem-estar.
É certo que a herança genética cumpre o seu papel em muitas famílias, porém, em metade dos casos das crianças com excesso de peso, a causa fundamental do problema é o ambiente. Inclusivamente a predisposição para uns quilos a mais não é necessariamente determinante: a verdade é que, sem um meio propício, os genes não se expressam.
Como ajudar uma criança que já tem peso excesso de peso a crescer com o peso que lhe corresponde? As crianças com excesso de peso não devem “fazer dietas de emagrecimento”, visto que isto poderia comprometer a sua nutrição e o seu crescimento normal. Nem tão pouco se deve dar mais atenção ao peso do que ao amor ou à aceitação e à apreciação dos talentos e sucessos da criança.


Aprender a comer o certo na medida certa


Os pais devem controlar a alimentação das crianças desde que nascem. Contudo, muitos adultos não percebem em que medida são responsáveis por vários aspectos e significados da alimentação.

Quanto comer? As crianças devem aprender a comer como resposta à fome e deixar de comer quando estão satisfeitas. Os adultos que as incitam repetidamente a comer quando não têm fome, a comer “um pouco mais” ou a “limpar o prato”, ensinam-nas a ignorar a fome e a saciedade como sinais naturais do organismo para comer e parar.
Por outro lado, quando ao acto de comer se imprimem valores, está-se a criar o ambiente propício para os problemas.
Assim, algumas crianças aprendem com os seus avos e pais a associar a comida à aceitação e ao amor.
A quantidade de alimento é um factor importante. Sabe-se que as crianças comem mais quando lhes servem maior quantidade de comida. É melhor servir pequenas quantidades de alimento e dar uma quantidade ainda mais pequena se a criança desejar repetir.

Quando comer? Fazer refeições de forma e com horários regulares é muito importante porque permite que as crianças sintam apetite e aprendam a satisfazê-lo com alimentos saudáveis. Pelo menos, uma refeição familiar por dia já ajuda bastante. Se não se puder estabelecer uma refeição familiar diária, convém organizar uma ou mais durante o fim-de-semana.

Onde comer? É importante que todas as bebidas e alimentos se consumam sentados à mesa, não em frente á televisão ou ao computador. As refeições nos Centros Educativos costumam ter bastante gordura. E cada vez mais os Centros estão equipados com máquinas de refrescos. Os pais devem estar atentos a este facto e controlar os menus dos Centros, e insistir em que façam mudanças positivas para que os seus filhos consumam alimentos saudáveis.

O que comer? Cabe aos pais proporcionar os alimentos e fazer uma escolha razoavelmente saudável. Se a casa estiver a abarrotar de bolachas, chocolates, rebuçados, batatas fritas, refrescos e gelados, é isso que as crianças vão querer. O mais correcto é manter uma provisão regular de fruta, salada de fruta, hortaliça cortada em palitos, cremes para barrar o pão pouco gordos, lácteos meio-gordos, etc.
As crianças aprendem a gostar dos alimentos que se acostumam a comer. A ênfase deve pôr-se nos alimentos saudáveis: fruta, hortaliça, peixe, carnes com pouca gordura, frango sem pele, produtos lácteos com baixo teor de gordura ou desnatados, pães e cereais integrais.
Quando têm sede, é melhor dar-lhes agua, leite ou sumos de frutos naturais do que refrescos ou sumos comerciais.
Não se deve proibir nenhum alimento, excepto por razoes de saúde, como no caso de diabetes ou intolerância ao glúten. Uma guloseima ou um alimento com gordura podem incluir-se de vez em quando, ou mesmo todos os dias, se as quantidades forem razoáveis.
Se um alimento de que a criança gosta, como guloseimas, batatas fritas ou gelado, se proíbe totalmente, mais desejável se torna e a criança pode começar a ingeri-lo sempre que os pais não estejam presentes. Por outro lado, usar estes alimentos como recompensa também espicaça mais o desejo.
Não é conveniente preocupar-se em excesso com a quantidade de bolos, guloseimas, gelado ou refrescos que consome uma criança com excesso de peso numa festa, visto que se trata de ocasiões especiais. Em geral, é pouco sensato proibir alimentos a uma criança esgrimindo a razão do excesso de peso: a restrição conduz sempre ao excesso na oportunidade seguinte.

Menos televisão, mais desporto

Hoje, as crianças fazem cada vez menos actividade física, tanto na escola como fora dela. E por cada hora de exercício físico que realizam, o risco de obesidade diminui em 10%.
É um direito dos pais insistir junto dos Centros Educativos na promoção de mais actividades desportivas. É, também, fundamental restringir as horas que as crianças passam em frente da televisão e do computador, e troca-las pela bicicleta, pelos jogos no parque ou pela prática de algum desporto. Não parece uma boa medida colocar um aparelho de televisão no quarto das crianças, a menos que estas respeitem um cronograma estabelecido pelos pais para ver televisão. Há uma relação directa entre o peso, o aumento de peso e a quantidade de tempo que vêem televisão e jogam com o computador: por cada hora, o risco de obesidade da criança aumenta em 12%.

Por Dr. Alberto E. J. Cormillot, médico, educador para a saúde, escritor, conferencista e comunicador social
Artigo retirado da Revista: Educadores de Infância, nº 30, Novembro, Editora EDIBA